22/06/2009

Há dias assim...

que tudo faz sentido e cada verso nos liga


Ai,rapaz!
Se tu soubesses bem
como é que eu fico
quando vou ao bailarico
e te miro a dançar
ó-ai, à marcial...
Já tentei dançar assim também
a esse ritmo, cada passo com sentido
e eu nem gosto de marchar.
Ó-ai, mas quem me viu?!

Ai, rapaz, mas eu queria
uma valsa a três passos,

dar-te a mão e ver a vida,
agarrada a teus braços, ai...
Fui-me pôr
Sentada mesmo à frentee ali esperei...
A tantos eu negueio prazer da minha dançaó-ai, que era só tua...
Mas o bar também chamou por ti,
num entretanto, a banda ia tocando
e quando tu de lá voltasteó-ai, a valsa acamou!

Ai,rapaz! mas eu queria
ir na roda e ser teu par!
Dar-te a mão, ir na folia
E não mais a te largar, ó-ai...
Foi então
Que a roda se fez,
ao largo, larga
tanta gente, muita farra
e nós
ali na multidão
ó-ai, com outro par!
Fui passando

par a par, nem sei
quantos ao certo
e tu cada vez mais perto
e quando só faltava um
ó-ai, veio o leilão!

Ai, rapaz, o que eu queria
era um baile bem mandado
que nos guiasse à sacristia
e voltássemos casados,ai...
E do palco
surgiu uma voz
e a concertina:
"Roda(s) manel TU, vira(o) maria EU
e quem não vira perde a roda!"

Ó-ai, e eu virei!
Mas a voz,
puxada à concertina,
mais pedia

e acelarava a melodia
os pés trocavam-se no chão
Ó-ai, e assim foi...
Ai, rapaz, e foi o baile,
sem alma nem coração
mal cantado e mal mandado
que me atirou ao chão,ó ai...
E
foste tu a dar-me a mão...


Eu tenho um melro
que é um achado.
De dia dorme,à noite come
e canta o fado.
E, lá no prédio,ouvem cantar...
E já desconfiam
que escondo alguém
para não mostrar.

Eu tenho um melro,
lá no meu quarto.
Não
anda à solta,
porque, se ele voa,
cai sobre os gatos.
Cortei-lhe as asas

para não voar.
E ele faz das penas
lindos poemas
para me embalar.
Melro, melrinho,e se acaso alguém te agarrar,
diz que não andas sozinho
que és esperado no teu lar.
Melro, melrinho
e se, por acaso, alguém te prender,
não cantes mais o fadinho,
não me queiras ver sofrer.
E não volta(es) mais,
que estas janelas não as abro nunca mais.

Eu tenho um melro
que é um prodígio.

Não faz a barba,
não faz a cama,
descuida o ninho...


Mas canta o fado
como ninguém.
Até me gabo
que tenho um melro
que ninguém tem.
Eu tenho um melro...
(-Que é um homem!)Não é um homem...
(-E quem há-de ser?!)
É das canoras aves
aquela
que mais me quer.
(-Deve ser homem!)Ah, pois que não!
(Então mulher…)Há de lá ser!?

É só um melro
com quem dá gosto adormecer.

E não voltes mais,
que a tua gaiola (NÃO) serve a outros animais.


Dizem que é mau,
que faz e acontece,
arma confusão e o diabo a sete.

Agarrem-me que eu vou-me a ele
nem sei o que lhe faço...
desgrenho os cabelos
esborrato os lábios.
Se não me seguram
dou-lhe forte e feio:
beijinhos na boca,
arrepios no peito.

e pagas as favas
eu digo: - "enfim,ó meu rapazinhoés fraco pra mim!"

De peito feito ele ginga o passo
arregaça as mangas e escarra pró lado.
Anda lá, ó meu cobardolas
vem cá mano a mano
eu faço e aconteço
eu posso, eu mando.

se não me seguram
dou-lhe forte e feio:
beijinhos na boca,
arrepios no peito.

e pagas as favas
eu digo:"-enfim,ó meu rapazinhosou tão má pra ti!"

Ó meu rapazinho, ai
eu digo assim:"- Se não me seguram
dou cabo de ti!"



{se calhar, dançar em braços teus}

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